Diferenças Culturais

Diferenças Culturais

24/02/2012  ·  Costumes, Cotidiano, Cultura, Culture, Diferenças, Disciplina, Foucault, Germany, Munique, München, photography

Munique, Alemanha (2012)Munique, Alemanha (2012)
Quando estamos fora de nosso habitat, em um local diferente ao que estamos acostumados a viver, seja em um bairro, seja em uma cidade, ou mesmo em outro país, em geral, nossa percepção fica mais aguçada e passamos a perceber detalhes do cotidiano desses lugares que consideramos “diferentes”. No entanto, mesmo nesses locais, com o passar do tempo começamos a nos acostumar com essas diferenças, que podem se tornar comum também para nós, ou, como normalmente ouvimos falar, elas “entram em nossa rotina”. Alguns comportamentos observados no cotidiano das pessoas em outros países destacam-se das demais, por exemplo, uma cena que tive a oportunidade de presenciar foi em Munique, na Alemanha, que deixa muitas pessoas intrigadas ao vê-la. O que observei foi quando algumas pessoas compravam jornal, que está depositado em uma caixa de metal com a tampa de vidro e um pequeno compartimento para colocar as moedas. Porém, para espanto, ao menos de nós brasileiros, é que não há ninguém vendendo ou cuidando dos jornais que estão na calçada, apenas os leitores depositam o dinheiro e pegam seu jornal.
Outro exemplo, ocorrido nessa mesma cidade, são os bilhetes de trem, ao comprar um ticket para usar o trem por alguns dias o atendente no guichê disse-me apenas para validá-los no blue box (caixa azul), um equipamento que ao inserir o ticketimprime a data e hora. Após alguns dias utilizando o trem não fui abordado por ninguém, nem mesmo ocorreu fiscalização para verificar se possuía bilhetes para utilizar o trem. O que impede que as pessoas utilizem o trem sem pagar?Mesmo que já tivesse ouvido comentários de amigos ou mesmo lido sobre tais situações, essas cenas nos intrigam por que não estamos acostumados em nossa cultura com este tipo de “liberdade”, se é que podemos chamar assim. Ademais, observei na Alemanha outra situação que poderíamos chamar de "intrigante", foi ver nos sinais de trânsito, as pessoas que não atravessam a rua sem que o sinal estivesse aberto, mesmo que não viesse nenhum carro, ou fosse tarde da noite, "eles" aguardam o sinal ficar verde, para então atravessarem a rua. É comum ouvirmos comentários sobre essas atitudes que ocorrem na Europa e em outros locais, da mesma forma, também é normal ouvirmos dizer que no Brasil tais sistemas ou “modelos” não dariam certo. Porém, sem conhecer a cultura local, os detalhes que envolvem tais costumes e os motivos que levam as pessoas a não burlarem tais “regras”, se é que não burlam, pois não conhecemos tão bem a realidade destes locais para saber o quão efetivo e respeitado elas são, talvez até existam pessoas que não os respeite, não sabemos, ao menos não tive sei conhecimento sobre isso. Poderíamos supor, uma vez que pretendo apenas realizar algumas reflexões superficiais de tais costumes, que essas situações poderiam se tratar das Disciplinas, apresentadas por Foucault (1987)[1], e que segundo ele seriam métodos que permitem o controle minucioso do corpo, realizando a sujeição constante de suas forças, impondo-lhe uma relação de docilidade/utilidade. Com isso, cito este autor, sem a profundidade necessária, apenas para salientar que tais atitudes podem conter outras relações, reflexões do cotidiano e da vida dessas pessoas, que muitas vezes não são possíveis de serem observadas pelos “estrangeiros”, pois estão de passagem e apenas de passagem por esses locais. Assim, apenas com as observações superficiais realizadas por viajantes que se encontram em uma curta estada, torna-se difícil realizar uma interpretação correta e aprofundada sobre tais cenas, sejam elas na cultura de outros países, sejam em nossa cultura local, pois acredito que para compreendermos melhor o funcionamento e as razões que levam determinadas povos a se comportarem de um determinado modo, seja necessário, entre outras procedimentos, observar os significados, mas também os valores que estão relacionados e a importância que as pessoas dão a esses costumes, bem como a origem deles.

[1] FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir. Petrópolis, RJ: Vozes, 2010.